quinta-feira, 24 de julho de 2008


O receio de escrever a caneta
Sobre folhas metricamente limitadas.
Sentir o pânico escorrer
Ficando gravado no papel.

Permanente é a tinta,
Que se esgueira,
Fluida.

Não é de mim que brota esta energia,
Esse movimento persistente,
Continuado,
Demente!

Minha é a dúvida,
Minha a aflição,
A inconstância,
A inconsistência puramente resultante da aleatoriedade.

O acaso,
Engrenagem caótica,
Autónoma,
Descendente,
Curva!

(Findou…)

domingo, 20 de julho de 2008















Não é só escuridão!
O sol também brilha aqui,
Timidamente,
Não deixando morrer a esperança.

As árvores pacientes
Esperam, quietas,
A chegada de outro vento,
De um vento não tão agreste e possessivo quanto este.

Esperam quietas e pacientes
Pois,
Quando ele chegar,
Vestirão sem demora a sua melhor roupagem verde
E a espera acabará,
E a aspereza cessará
E a sua imobilidade tornar-se-á dança.

Mas…
O baile não dura eternamente
E a dança cessa quando,
Já rendidas,
Castanhas talvez,
Lhe entregam o seu vestido.

Ah!...
Ciclo contínuo,
Engrenagem sem memória…

quinta-feira, 17 de julho de 2008















Ah!...
Se eu soubesse como era
Leve,
Suave,
Envolvente,
Este vento do sul…

Ergueria os meus pesados pés
E, num andar aos tropeções,
Avançaria contra si,
Seguindo-o até de onde ele sopra.

Ah! Que felicidade!
Pudesse eu!
Pudesse eu…
Pudesse eu imaterializar-me
E simplesmente…
Ir.

Resta-me senti-lo passar,
Deixar um arrepio percorrer todo o meu tronco
E,
Num acto tresloucado,
De desespero total,
Despir-me
Peça a peça,
Esperando que sinta o meu perfume,
Ou o que resta dele…

terça-feira, 15 de julho de 2008

Tira esse sorriso ridículo da tua face
e vive simplesmente.

Não te estendas fora do teu domínio.

Não ames o que não te pertence
nem o que te transcende,
embora teimes em só vislumbrar o céu.

Esquece-te da existência,
esquece o que és e quem és.

Procura-te para te perderes
na certeza de que o real é uma ilusão
e,
por fim,
quando sem forças e imóvel
te aperceberes que não duras o suficiente para abraçares tudo,
rende-te ao abandono
e resume-te à tua insignificância.

sábado, 12 de julho de 2008


Encosta-te a meu peito.
Deixa que afague os teus longos cabelos de desespero,
deixa que beba as tuas lágrimas de desânimo e
deixa que inflame os teus olhos tristes
com o verde da esperança

que não tenho.



quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mata-me com a tua simples presença.
Esgota em mim toda a vitalidade colorida.
Cerca-me em teus braços
e estrangula toda a fragilidade
que é a sombra de um corpo.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sangue

O meu sangue é escuro e aveludado,
detentor de verdade e mentiras.
Tem odores ferrosos
que não pesam mais que pensamentos.
É fluente,
não tanto quanto o sonho e o futuro-

O meu sangue é doce como o mar,
mas sem vitalidade.
Tentativas falhadas...
(saudade?)

O meu sangue possui espinhos e é escuro, vazio.
Não é dotado de conteúdo,
mas tão somente de transparência.

À deriva...

Mira o horizonte longínquo por entre a sombra da imensidão
e busca-te.
Busca-te algures entre o infinito e o impossível,
entre o escuro e o secreto,
entre a obsessão e o oculto
e se não te encontrares
e se não te vislumbrares
e se desistires,
vai-te,
diz adeus,
um adeus que não perdura,
pois sabes que voltarás,
que sentirás,
que mirarás...
com certeza noutras incursões à deriva.


Não te vás na noite escura

deixando-me sem mim.

deixa-te ficar,

que a lua ainda vai alta.


Bem sei que te chamam,

lá do cimo,

de onde não vejo,

mas não sigas,

ainda,

que eu canto por ti

e clamo mais alto.