sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Elogio fúnebre a um gato


Gato negro,
gatos pardos,
fúria fora, ergo
mal parados.

A noite caiu.
Ali permaneceu imóvel,
intocável e ressoante.
Perdida, contemplada por
aqueles que apressados passam.

Voluptuosamente esgueira-se
arrasta-se num todo,
o céu,
deixando-o coberto pelo negro.

Breu infinito e reluzente,
conquistador e transparente.
Mal,
vívido,
com um pequeno toque de atonalidade.

Gato negro,
gatos pardos,
fúria fora, ergo
mal parados.

Uma dissonância surge,
revela-se de rompante,
Sorri de repente
A fera... Ruge
A vida urge?

As flores tão lindas
nos parapeitos das luzernas.
O verdume do ribeiro,
que faz esquina
com várias tavernas.

É de certo a algazarra tomada
por tão efémera geada.
Por manto fino e doce
de elevada tese.

Gato negro,
gatos pardos,
fúria fora, ergo
mal parados.

Escuro,
observa erguido
a mal feitoria dos bem feitores,
a intimidade de cantores.

Por ali se estendeu.


Assim decidiu permanecer,
esquecer-se de viver
e num ápice

morreu.