quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Que horas são?

 -Que horas são?
E o tempo deixa de ser a régua calibrada pela sucessão de algarismos.
Em boa verdade, aqui é sempre dia, enquanto o olhar estiver perto e desperto, consoante a perpendicularidade dos seus entrecruzares.

- Tem horas que me diga?
Horas, minutos, segundos… se os tenho, não sei.
Talvez os tenha na medida em que todos temos, enquanto persiste a ilusão de que se possui o tempo.

O dia e a noite estão lá fora, longe do alcance da vista...

E no meio da conversa (ou monólogo) voltei a perder o último comboio.
Amanhã haverá outro (se é que as automáticas locomotivas e seus pontuais maquinistas não fazem novamente greve…).

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Bela flor


Que flor será esta,
plantada,
(não semeada)
em frio e alvo vale?

As flores não gostam de vaso,
nem de cama,
nem de gelo,
nem de altar.

As flores são simples 
gostam de campo,
de sol,
de terra,
de orvalho para as regar,
E de fragrâncias, 
de outras flores e de mar,
trazidas pelo vento,
(ou qui-ça por brisas de outro lugar).

Cortam-se as flores,
as mais perfumadas e singulares,
decepa-se o que as une à sua raiz.
E sem pudor, 
remorso ou aviso,
são relegadas para um outro país.

Em jarras ou solitários,
tocadas pela beira d’água
com uma falta que não se pode entender.
A sede é tanta,
que o doce que as mantém 
é fel, 
é desdém,
só a custo o conseguem beber.

E as pétalas abrem,
afastam-se e murcham,
caiem por todo o branco em seu redor.
E já sem perfume,
sem vigor ou queixume,
permanecem e sonham com um outro lugar.

Que olhos estes…
Que egoísmo traiçoeiro,
que silêncio,
que agarrar!

Que flor será esta?
Não sei…
mas é uma Bela flor,
porquanto o seu pé durar.