terça-feira, 20 de setembro de 2011

O que é preciso fazer?

"- O que é que é preciso fazer? disse o principezinho.

- É necessário ser paciente, respondeu a raposa. Sentas-te primeiro um pouco longe de mim, assim, na erva. Eu olhar-te-ei pelo canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, poderás sentar-te um pouco mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Era preferível teres voltado à mesma hora, disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro da tarde, a partir das três começarei a sentir-me feliz. Quanto mais a hora avançar, mais me sentirei feliz. Chegadas as quatro horas já estaria agitada e inquieta; descobriria o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei-de vestir o meu coração... [...]

Foi assim que o principezinho cativou a raposa."
in O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry




Por favor... cativa-me!

"Foi então que apareceu a raposa.
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu delicadamente o principezinho, que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui, disse a voz, sob a macieira.
- Quem és tu? perguntou o principezinho. És bem linda...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, disse o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Mas, depois de ter reflectido, acrescentou:
- O que quer dizer 'cativar'? [...]
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa 'criar laços...'.
- Criar laços?
- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim não passas ainda de um rapazinho muito parecido com cem mil rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti sou apenas uma raposa semelhante a cem mil raposas. Mas, se me cativares, teremos necessidade um do outro. Para mim serás único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...[...] A minha vida é monótona. [...] Mas se me cativares a minha vida ficará como que iluminada pelo sol. Conhecerei um ruído de passos que será diferente de todos os outros. Os outros passos fazem-me meter debaixo da terra. Os teus, chamar-me-ão para fora da toca como uma música.
A raposa calou-se e olhou muito tempo o principezinho.
- Por favor... cativa-me! disse ela."

in O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry