quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A mulherzinha

A mulherzinha
é versada na arte de agradar,
aprendeu com a mãe,
entre as muitas tarefas do lar.

A mulherzinha
sabe que não é senhora de si,
mas nãosabe quem é,
para além do ser mulher de alguém.

A mulherzinha
espera e não desespera.
Abre a porta  quando tocam à campainha,
pendura o sobretudo no bengaleiro
e serve uvas sem grainha,
enquanto massaja pés descalços
(menos cansados dos que os seus).

A mulherzinha
é malabarista,
palhaço,
mágico
e bicho amestrado.

A mulherzinha
é eternamente cumpridora,
apesar de não ser eterna
e de se sentir mais deformada
do que conformada.

A mulherzinha
é coisa de trazer por casa,
é o queimar das horas vagas,
semelhante a cobertor de sofá
(ou a chinelo de quarto).

A mulherzinha
Não usa batom vermelho
(nem tão pouco unha pintada),
nem vai ao cabeleireiro
disfarçar anos medidos com fios brancos de cortar.

A mulherzinha
não tem roupa de marca,
mas tem marcas na roupa e na pele,
do desgaste das horas
e do passar... a ferro e fogo!